sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dias dos Professores - Meus Sentimentos!


A todos os professores, meus sinceros sentimentos!
Se eu escrevi errado? Não, é isso mesmo. A todos os professores, meus sentimentos.
Se eu estou louco? Acredito que também não, apesar todos sermos um pouco loucos.
Se vou explicar? Vou. Ao final gostaria de saber sua opinião, gostaria de saber se concorda comigo.
Vamos relembrar um pouco alguns fatos? Talvez muitos não saibam do que vou falar. Não me considero velho, mas também sei que não sou adolescente, portanto, a maioria da garotada de hoje nem fazer ideia do que falarei e, certamente, muitos vão achar um absurdo.
Sabe, sou da época em que o professor era alguém que merecia respeito. Sim, na minha época, quando um professor entrava na sala de aula, nós alunos, sem exceção, nos levantávamos e aguardávamos as instruções do mestre para nos sentarmos novamente. Sou da época em que o “sinal batia” para que entrássemos nas salas de aula, mas não era como hoje onde todos entram falando, gritando e por ai vai. Na minha época, quando o sinal batia, formávamos filas, ordenadas do menor para o maior e aos pares éramos chamados para entrar nas salas, para onde íamos sem abrir a boca.
Durante a aula ninguém ousava abrir a boca sem a permissão do professor e o que ele falasse era cumprido. Se estávamos gostando ou não era outra história, mas eram verdadeiras ordens.
“Lições de casa?”, sim, tínhamos muita e no dia seguinte, caso alguém resolvesse cometer a loucura de não fazê-la recebia um bom castigo. Não cheguei a pegar a época dos “grãos de milho” e nem do “chapéu de burro”, mas os castigos vinham e, pasmem, eram aprovados pela direção da escola e, por mais absurdo que possa parecer, nossos pais apoiavam essas ideias macabras.
Ir para a diretoria era quase que o mesmo que ir para a câmara de gás. Era a morte! Tínhamos ditados, chamadas orais, provas muito bem elaboradas e recebíamos inúmeras correções para fazer, todas em caneta vermelha e muito bem destacadas para que pudéssemos ver onde estava nosso erro e corrigi-lo. Um verdadeiro despautério (caso nunca tenha ouvido falar nessa palavra, me desculpe, ela é bem retrógrada mesmo, mas uma consulta ao Google resolve), não acha?
Em dias de comemorações cívicas (na época sabíamos o que se comemora em 7 de Setembro, 15 de Novembro, e por ai vai), ensaiávamos os hinos antes e todos cantavam muito bem. No grande dia, estávamos presentes para o hasteamento da bandeira e aquilo era um verdadeiro ato cívico.
Se tínhamos trabalhos para fazer? Sim, tínhamos sim e sabe o que é pior? Não tínhamos Google, aliás, nem computador tínhamos. As pesquisas eram feitas em livros (enciclopédias) e depois cuidadosamente datilografadas para serem entregues ao professor. Na grande maioria das vezes tínhamos que recorrer às bibliotecas municipais, pois as escolas não tinham todos os livros necessários. Um outro absurdo, tínhamos que ler! Minha professora de língua portuguesa tinha essa mania, ela queria que nós lêssemos. A coisa funcionava assim, uma pessoa começava a leitura de um texto e, de acordo com o critério que ela queria, sorteava outro aluno que tinha o dever de continuar a leitura do exato ponto de onde o outro colega havia parado. Pode uma coisa dessa? Tínhamos que prestar atenção ao que os outros falavam, tínhamos que ficar quietos! Absurdo isso.
Os professoras da minha época eram verdadeiros carrascos. Eles tinham a audácia de nos reprovar! Sim, caso não soubéssemos o conteúdo, ficávamos de ano, sem dó nem piedade e não adiantava chorar, ir falar com diretor e nem reclamar para os pais, pois estes (também muito terroristas), apoiavam as atitudes dos professores!
Não sei como sobrevivi a tudo isso? As vezes penso que sou um herói, pois me corrigiam, apontavam meus erros, tínhamos que obedecer, tínhamos que prestar atenção, os professores não eram verdadeiros artistas de stand-up comedy e suas aulas nem tinham recursos pirotécnicos. Eles usavam lousas! E o que é pior, enchiam essas lousas de conteúdo várias vezes por dia e nós, pobres coitados, tínhamos que copiar tudo. Sinceramente, não sei como sobrevivi. Se fosse hoje, todos estariam na cadeia, expulsos das suas escolas e provavelmente até da própria sociedade, afinal, os pais de hoje defendem muito mais seus filhos.
Você vai me perguntar se eu gostava disso? Se eu acho que isso era certo? Na época eu confesso que não gostava muito não, tinha uma certa bronca desses carrascos, mas hoje, tenho certeza de que eles fizeram o que poderiam para me transformar num ser humano, numa pessoa de caráter, em alguém que sabe respeitar os limites dos outros e que sabe se postar nos lugares em que se encontra, numa pessoa que consegue ter respeito pelos seus superiores, sem ter que desafiá-los a todo instante , como se fosse o dono do mundo.
Essas pessoas construíam personalidade, construíam caráter, construíam respeito, coisa que hoje inexiste em praticamente todas as relações.
Hoje também sou professor (sim, aqueles loucos me influenciaram de tal forma que acabei gostando) e, em muitas vezes, me questiono se vale a pena continuar na profissão. Me questiono sobre o que estou fazendo (ou, sobre o que me deixam fazer).
Hoje são os alunos que ditam aos professores o que querem fazer e o que não querem, são os alunos que levam os professores para a direção (é isso mesmo, não perdem uma oportunidade de ir reclamar com os coordenadores, diretores e depois, lá vão os professores ter que se explicar), são os alunos que deixam os professores de castigo (quer castigo maior que ficar um final de semana lendo “trabalhos” que nada mais são que cópias muito mal feitas de tudo o que já está na internet?).
Os alunos hoje acham sua aula chata, monótona, que você não sabe se postar, não sabe dar aula, não tem domínio do conteúdo (nunca entendi essa parte, afinal, como eles sabem?) e por ai vai. Também são os alunos que punem os professores que tem a esdrúxula ideia de tentar reprovar alguém, e hoje, claro, com o total apoio dos pais e na maioria das vezes, da direção da escola também.
Debocham da nossa cara, nos chamam de patéticos e sabe por que? Porque insistimos que eles precisam aprender. Aprender para que? Temos um ex-presidente que se orgulha de nunca ter lido um livro, temos parlamentares analfabetos, jogadores de futebol ganhando fortunas sem sequer concluir o primeiro grau (nem sei como se chama mais isso hoje). Ai, esses alunos olham para quanto ganha um professor e vão pensar o que? Qual estímulo vão ter para estudar?
O pior ainda é que vez ou outra aparece um Psicopedagogo, Psico-neuro pedagogo (a moda agora é ser Psico alguma coisa), dizendo que nossos alunos é que estão certos. Há alguns dias atrás li uma matéria de um desses “psicos” dizendo que é papel do professor dar o exercício, mas mostrar a página do livro onde se encontra a resposta. Nessas horas eu tenho certeza de que estou na profissão errada.
Institui-se a cultura da burrice generalizada, institui-se a apatia, institui-se a cultura da falta de cultura.
Todos dizem que vivemos na era do conhecimento. Mentira! Vivemos, no máximo, na era da informação, informação essa que na maioria não serve para nada. Ninguém pensa, ninguém constrói, ninguém tem senso crítico para analisar nada e tudo o que vem é engolido prontamente.
Sabe o que acho mais desmotivante em tudo isso? Os alunos acharem que isso é bom. Gostam de aulas ridículas, de conteúdos mesquinhos, de provas que não servem para nada, gostam de trabalhos copiados e até pagam para que outros o façam por eles. Isso tudo é visto como legal, é bacana!
Outro dia ouvi de um aluno se eu não poderia deixar meu material mais fácil, pois ele não estava conseguindo ler e entender e que para isso ele tinha que vir para a aula! Não tive resposta na hora, fiquei parado tentando entender se eu tinha ouvido direito. Eles reclamam de ter que vir para a aula!
Muitos não chegaram até esse ponto do texto, tenho certeza, afinal, outro absurdo da atualidade é escrever algo com mais de 200 caracteres (viva o Twitter). Esse meu texto chega a beirar a insanidade, como pode alguém escrever tudo isso?!
Vou finalizando e gostaria nesse momento de citar alguns nomes de ex-professores (claro, não são todos e sei que não me lembraria de todos eles, portanto, peço desculpas), mas citarei alguns que realmente marcaram: Maria José Sampaio Cossaro, Belmira Fernandes Tamer, Maria Lúcia, Perpedina da Costa Giraldi (todos esses foram professores que tive até a minha oitava série), um pouco depois, já na faculdade, também tenho bons exemplos que merecem ser seguidos: Roland Portella, Diogo Robles, Marcos Gialdi, Andréa Andrade, Cléver Eduardo Zuim Lobo, Carlos Roberto Paviotti, Daniel Fontolan, Nelson Petraglia, José Luiz Pagotto, Paulo Elias, dentre tantos outros, que poderia ficar aqui listando por algum tempo. Não tenho nenhuma listinha na minha frente agora para me lembrar desses nomes, mas me lembro como se fosse ontem e, no caso dos primeiros que citei, lá se vão quase trinta anos.
Hoje tenho alunos que terminam o semestre e não sabem meu nome, não sabem a matéria que leciono, isso quando sabem quem eu sou, pois acreditem, já tive casos da pessoa vir me procurar no semestre seguinte falando que era meu aluno (nunca havia me visto e vice-versa).
Felizmente existem ainda algumas raras exceções, mas a dura realidade é essa. O que aconteceu? De quem é a culpa? Não pretendo abordar isso, deixo para os “psicos” que analisem e formulem suas teorias fantásticas, sou somente um retrógrado professor, que às vezes pensa que está na hora de sair de cena, pois penso que não estou fazendo um bom trabalho frente as novas exigências.
Sei que esse texto não vai agradar a muitos, mas ainda acho que tenho o direito de expressar minhas opiniões.
A todos os PROFESSORES que fizeram parte da minha formação, meu muito obrigado. Aos colegas de profissão, meus sentimentos pelo que passamos e meus parabéns pela coragem de ainda persistimos nessa que creio, ser uma das mais belas profissões, afinal, se existem bons médicos, bons artistas, bons engenheiros, etc, é porque, antes, existiram bons professores.

Prof. André Luís Belini de Oliveira



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